quarta-feira, 15 de maio de 2013

Turfa (Tijuca)

Há umas semanas atrás, era possível obter estas fotografias na Praia da Peralta (Rio de Moinhos). Esta vasta área à mostra, que aparentemente parecia poluição (alcatrão), não o é...
Para esclarecer a razão daquela anormal mancha negra, pedimos ajuda às Dra (s) Ivone Magalhães e Ana Almeida, da CM Esposende, que ainda recentemente organizaram uma palestra sobre a Praia da Peralta e o lançamento do livro  “O irado mar Atlântico. O naufrágio Bético Augustano de Esposende”.


 


A “mancha na Praia da Peralta” que é possível observar, é turfa (“tijuca”), testemunho de um depósito lagunar que só deixou de o ser claramente a partir dos séculos XIV-XV.

Isto significa que “onde se localiza a praia de Rio de Moinhos existiu uma laguna costeira (…)” (ver Granja, Helena,Reconstituição paleoambiental do holocénico finalin “O irado mar Atlântico. O naufrágio Bético Augustano de Esposende”, pp. 221-235).


 


"Basicamente é o chão, o solo,  de uma zona muito antiga, que no passado era  encharcada de água doce (uma zona lagunar), que depois quando o nível do mar subiu, ficou “afogada” e dentro da zona entre marés (que fica descoberto só quando a maré baixa na baixa-mar) e que hoje só descobrimos quando as marés limpam a areia que cobre a tijuca durante curtos episódios de tempo (uns dias apenas).  

A tijuca é frágil, pois está na zona de maior impacto, a zona interdital ou de marés, onde ocorre com violência o desmontar mecânico da praia pelas pancadas do mar, com as ondas a bater no chão, ritmadas, com toneladas de peso, e ainda a arrastar as pedras soltas de placas de xisto, que passam sobre a tijuca, maré após maré, e que vão desfazendo este paleosolo, ano após ano. Se as pessoas interferirem negativamente neste solo, fazendo buracos, ajudam o mar a desmontar este testemunho arqueológico ainda mais depressa. E infelizmente não temos como salvá-lo. Podemos apenas salvar pequenas quantidades, que é o que andamos a fazer, mas só com a ajuda de todos podemos preservar o máximo de extensão de tijuca. E curiosamente, nem tudo é má notícia: pois a areia que o mar lhe deposita em cima, serve de camada protectora, mantendo a tijuca selada no tempo. Por isso fazer buracos é um erro, pois expomos á acção mecânica da próxima maré o buraco que fizermos. E um pequeno buraco à procura de minhocas (imaginárias, pois a tijuca não tem esses vermes) torna-se uma cratera gigantesca que desmonta vários metros de tijuca. Ou seja, esses buracos são agressões gratuitas ao nosso património e devemos impedir isso."

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