sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Erosão

A propósito da erosão costeira, tem algum interesse este artigo do Jornal i, da autoria de Diogo Pombo:

Erosão da zona costeira. Todos se queixam do mar e a culpa é 90% do homem

O mar vai ganhando metros às praias do país, mas só 10%a 15% da erosão é natural se deve à subida do nível da água.
As praias são como um rio de areia. E como qualquer rio, têm uma nascente e uma foz. É costume "dizer-se que as praias nascem nas montanhas", defende João Alveirinho Dias, mas também já é frequente ver "as praias a morrerem no caminho para o mar", lamentou o especialista em Dinâmica Sedimentar. E só uma parte pequena da culpa se deve à subida do nível médio da água ou a fenómenos como o ocorrido no início deste mês, em que ondas gigantes galgaram terra adentro em vários locais da costa de Portugal Continental - entre 85 a 90% da erosão costeira encontra a sua causa no lado do homem, garante o investigador. E os portugueses importam-se "muito pouco" com isto.
A linha entre o Douro e a Nazaré é um exemplo "paradigmático" de como a acção humana, aliada aos factores naturais, em muito agrava o desgaste das zonas costeiras. "Em condições naturais as areias vinham essencialmente do rio Douro, chegavam ao mar e, devido à acção das ondas, eram transportadas para sul, ao longo do litoral", explica João Alveirinho Dias, da Universidade do Algarve. Se um rio seca quando "deixa de haver água nas nascentes", também as praias "nascem nas montanhas" mas acabam "por morrer no caminho", devido à "cascata de barragens" que se construiu ao longo do Douro, avisou o investigador.

BARRAGENS Hoje a contagem vai em 64 barragens, explica Adriano Bordalo e Sá. O hidrobiólogo do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto, relembrou que, na zona costeira a norte do Mondego, o rio Douro é "o grande fornecedor de areia" e drena 98 mil quilómetros quadrados, uma área superior à de Portugal Continental (cerca de 92 mil km²).
A partir da década de 60 e "64 barragens depois", porém, "o caudal sólido de areias" passou de cerca 1,8 milhões de metros cúbicos por ano para 250 mil m 3. Mas neste filme de factores humanos "existem vários vilões". As dragagens para a construção civil ou por motivos de navegação, são um deles. "Retiram uma quantidade grande de areias dos estuários, que estavam à espera da próxima cheia para transportar sedimentos para o mar e alimentar o tal rio de areia", queixou-se o Alveirinho Dias ao i.
No Douro até já houve períodos "em que o volume de areias legalmente retirado" foi superior "ao transporte total de areia" registado "durante um ano" pelo rio, alertou Adriano Bordalo e Sá.
E "não só" se verifica "uma redução do transporte de areia" devido às barragens, resumiu o hidrobiólogo, como o homem "intercepta o pouco que sobra". Um pouco que "estava à espera da próxima cheia para levar sedimentos para o mar e alimentar o tal rio de areia", explicou Alveirinho Dias. Por ano, esta zona da linha costeira perde "sete ou oito metros" de areal, alertou o investigador.

OCUPAÇÃO A areia vinda de rios é cada vez menor, e caso estes cursos de água "não transportem a quantidade necessária para colmatar falhas", então "o mar encarregar-se-á de a ir buscar onde ela existe", explicou Adriano Bordalo e Sá. Onde? "Nos cordões dunares", rematou, antes de remeter para outro problema - o desordenamento da orla costeira. "De há 30 anos para cá, qualquer pessoa procurou ter uma casa com vista para a água, nem que fosse para um balde", criticou o hidrobiólogo.
A par de ausência de "uma gestão costeira integrada", Bordalo e Sá lamentou que a "legislação portuguesa de ordenamento da orla costeira" não se aplique sempre que "se entre numa área sob jurisdição portuária". Em Lisboa, por exemplo, equivale a não poder tocar numa extensão de 50 quilómetros.
Sem a acção humana restariam sempre os factores naturais. E aí uma das causas da erosão prende-se com "a mudança de orientação dominante das ondas", indicou Filipe Duarte Santos. "Na nossa costa", começou por explicar o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a "direcção dominante das ondas é Noroeste" mas "está a rodar no sentido dos ponteiros do relógio" - logo, verifica-se "um maior transporte paralelo à costa, de Norte para Sul".

Depois vem o aumento do nível médio da água do mar: que "está a subir, vai continuar a subir e está a acelerar todos os anos".

No verão, estas estacas quase não se viam...

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